Este prato em porcelana apresenta no centro o Brasão Real de Portugal, utilizado oficialmente entre 1815 e 1910, durante o período constitucional da monarquia portuguesa. Trata-se de uma composição heráldica de grande elegância, representada com uma notável riqueza cromática e minúcia pictórica.

O brasão é constituído pelo escudo português tradicional: cinco escudetes azuis (quinas), cada um com cinco besantes prateados dispostos em cruz, sobre campo branco. Estes elementos simbolizam os cinco reis mouros derrotados por D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique (1139) e, segundo a lenda, as cinco chagas de Cristo, evocando a proteção divina sobre o reino.

Em torno das quinas figura a bordadura vermelha com sete castelos dourados, representando as fortalezas erguidas para defesa do território durante a Reconquista Cristã e a consolidação do reino. O escudo é encimado por uma coroa real fechada, símbolo da soberania e independência da nação, e repousa sobre um manto decorativo com volutas e flores em tons de verde, azul, dourado e encarnado.

Por baixo do escudo encontra-se a Cruz da Ordem de Cristo, pintada em tom rosado, evocando a herança templária e o papel determinante da Ordem na epopeia dos Descobrimentos Portugueses. Ladeando o brasão, dois ramos florais entrelaçados — de rosas e flores silvestres — reforçam o caráter ornamental e festivo da peça, aludindo à harmonia e fertilidade da nação.

O friso que contorna o prato combina motivos de inspiração neoclássica: guirlandas douradas intercaladas com medalhões azul-cobalto, sobre fundo branco. A decoração é ligeiramente em relevo e percetível ao toque, denotando trabalho manual cuidadoso, com pigmentos aplicados sob e sobre vidrado. Embora apresente brilho metálico, o dourado não foi confirmado como ouro verdadeiro.

A porcelana apresenta espessura ligeiramente superior à média, o que confere à peça um peso considerável e uma sensação de robustez. Este peso mais elevado é característico das porcelanas decorativas portuguesas de meados do século XX, fabricadas com massa densa e vidrado espesso, assegurando maior durabilidade, brilho e estabilidade quando expostas.

O verso do prato revela apenas o vestígio de uma etiqueta de papel retangular, envelhecida e parcialmente removida, indicando que a peça terá sido comercializada por uma loja portuguesa de decoração ou antiquário, provavelmente entre as décadas de 1950 e 1980. A ausência de marca de fabrico sob o vidrado sugere que não se trata de produção industrial da Vista Alegre ou Sacavém, mas sim de uma manufatura nacional de porcelana decorativa.

A peça encontra-se em excelente estado de conservação, sem fissuras, lascas ou falhas na pintura, mantendo todo o brilho original.

• Dimensões: 25 cm de diâmetro
• Peso: 707 g
• Materiais: porcelana decorada com pigmentos vitrificados, dourado e esmalte azul-cobalto
• Origem: Portugal, meados do século XX
• Tipologia: prato decorativo heráldico
• Género: porcelana histórica
• Técnicas: moldagem, pintura manual sob e sobre vidrado
• Estado de conservação: excelente
• Estilo decorativo: neoclássico revivalista, com influências heráldicas e monárquicas
• Tipo de acabamento: vidrado brilhante com pintura em relevo

A peça conserva vestígios de etiqueta de papel, possivelmente de origem portuguesa, sem identificação de fábrica. Este tipo de etiqueta era comum em produções decorativas nacionais de meados do século XX, destinadas ao mercado interno e à exportação.

Estilo e função da peça: Os pratos com brasões nacionais foram muito procurados em Portugal durante o século XIX e parte do século XX, como objetos de prestígio, símbolos de identidade nacional e peças comemorativas. Este exemplar, de excelente execução e estética equilibrada, combina tradição heráldica com o requinte das porcelanas decoradas à mão, evocando a memória da monarquia portuguesa e a sua herança cultural e artística.